quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Deformações da Coluna - O Meu Testemunho

As deformações da coluna podem ser de nascença ou podem surgir com o crescimento. Na maioria das vezes surgem na adolescência devido a mudanças repentinas no nosso corpo pois os ossos crescem em pouco tempo e, por vezes, o corpo não acompanha. Os sintomas são variados mas o mais visível é a curvatura que se forma na coluna que ao longo do tempo se vai acentuando e causando dores fortes. Foi assim que eu me apercebi do problema que se estava a formar em mim e que no momento já estava numa fase bastante avançada. Começou com uma pequena curvatura na coluna que se foi agravando com as minhas posições incorrectas e com o peso da mochila às costas. Na altura, com 11 anos, o médico aconselhou-me a ir para a fisioterapia e, mais tarde, a usar um colete (no princípio um obstáculo mas que, comparando com este de agora, era muito simples) para ver se melhorava a curvatura. Foram uns tempos complicados. Era tudo muito novo para mim e o ambiente que se vive numa fisioterapia não é propriamente bom. As dores que eu tinha deixavam-se exausta. Ao fim de dois anos de fazer estes tratamentos não havia grandes melhorias e fui a um novo médico. Lembro-me daquele dia (3/12/08) como se fosse hoje, foi marcante. Entrei no consultório e quando o médico viu os meus raios x disse-me que a minha curvatura estava numa fase muito avançada, com um ângulo de 53 graus, e que, para evitar uma cirurgia, teria de usar um colete de correcção da coluna, totalmente diferente do que o que eu tinha na altura e praticar natação. Também disse que não me dava a certeza que eu ficava bem. Ao ouvir isto fiquei surpreendida, não estava à espera disso, e fiquei com receio do que iria ser esta nova fase da minha vida. Nesse mesmo dia fui fazer os moldes para o colete e quando me mostraram uma fotografia de um colete igual ao que iria ser meu fiquei assustada. Esse colete implicava mudanças na minha vida. Fiquei muito em baixo e os dias seguintes também não ajudaram. Foram os dias em que se fizeram as adaptações nas mesas da escola e nas de casa. Mesmo em baixo, nunca deixei que o medo e o receio vencessem a minha força. Nunca ninguém me viu chorar (a dor que eu sentia era forte mas não a deixava transparecer pois não queria ser a “coitadinha”) e nunca me recusei a usar o colete pois sabia que era para o meu bem. No dia 18/12/08 foi o meu primeiro dia com o colete e desde aí nunca mais o deixei, 22horas por dia. Nos primeiros tempos foi difícil enfrentar o olhar e as perguntas das pessoas e mais ainda quando regressei, das férias de Natal, à escola. Tenho de sublinhar que não me faltou nada. Tive sempre a ajuda e o enorme apoio dos meus professores (e não só), dos colegas de turma, do director da escola e dos funcionários. Eram só mimos e apoio e a verdade é que: uma mesa especial não é para qualquer um! No início, como o corpo se estava a habituar, as dores eram fortes mas, à medida que o tempo ia passando, iam-se tornando menos intensas. Ia de mês a mês ajustar o colete e de três em três meses a uma consulta. Em Março deste ano voltei ao médico e já tinha uma melhoria significativa o que fez com que, nos meses de Verão, as horas de uso do colete por dia diminuíssem para 12 horas. Em Setembro, fiz novo raio x que trouxe óptimas notícias. A minha curvatura tinha melhorado 50%, nível acima do que era esperado pelo médico e, para continuar a melhorar, voltei a usar o colete 22 horas por dia até, pelo menos, Março do próximo ano, data em que voltarei novamente ao médico. Continuo a ir de mês a mês ajustar o colete que sobe sempre no pescoço e que é o que faz com que as mesas tenham de ser adaptadas. Hoje em dia, já estou tão habituada que os olhares das pessoas já me passam despercebidos até porque, com a rotina, esqueço-me que estou com colete. Agora quando o tiro, como corpo já está tão habituado, tenho dores. É uma diferença enorme olhar para as fotografias da minha coluna antes e agora. Tudo ajudou para que a minha coluna melhorasse: a minha força, o apoio, a natação e, principalmente, o colete. Agora, com um pouco mais de esforço, vou chegar à meta e daqui a algum tempo (meses ou anos) ficarei totalmente com a coluna direita. O pior já passou, agora que estou habituada já não custa tanto. É claro que é sempre complicado andar com o colete até porque tenho dificuldades em andar de carro e em fazer tarefas do dia-a-dia, mas prefiro isto do que uma cirurgia.
Um dia de cada vez e tudo se consegue. A pior parte da corrida já está feita agora só falta um bocadinho para chegar à meta.

Paula Martins

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